quarta-feira, 30 de março de 2011

BIOFILIA - Fundamento para um turismo sustentável

O comentário, abaixo, e a matéria foram encaminhados ao Ubatuba Cobra, pelo leitor face a publicação Parabéns a PMU, a Secretaria de Turismo e a COMTUR. Em função do conteúdo optei por publicar a íntegra do texto e do próprio comentário.


"Reclamar é bom, sugerir melhoras é melhor... Acho que está faltando um princípio operacional comum que todos adotem... e parece que faltam informações neste sentido... Na Universidade de Harvard surgiu uma abordagem para um desenvolvimento sustentável que nos proporciona uma visão coerente e realizável do que se pode fazer... Há algum tempo fiz um resumo da matéria":
ARTIGO - AL Ubatuba, 25.06.2007 (*)


BIOFILIA - Fundamento para um turismo sustentável

       Em nossos tempos a proteção ambiental já não pode mais ser considerada apenas um ideal proposto por ambientalistas. Se considerarmos a tese defendida pelo Prof. Edward O. Wilson, da Universidade de Harvard, entenderemos, que o ser humano necessita do contato com espaços e paisagens naturais para poder manter a sua saúde mental e física.  Assim se explica a intensa procura de habitantes de centros urbanos pela natureza, que por sua vez, origina o turismo em regiões favorecidas ambientalmente.
      
O prof. Wilson. demonstrou, que a tendência humana de exaltar a natureza e procurar um contato íntimo com ela é a expressão de uma necessidade biológica, pois nossa estrutura genética se formou em função de nossa vida no meio ambiente natural e não no meio ambiente artificial de centros urbanos. Isto provoca no ser humano um impulso de procurar a natureza, sempre quando pode. Esta tendência do ser humano de procurar contato com espaços naturais e encantar-se com a vida, o Prof. Wilson chama de "Biofilia"¹, ou atração pela vida.
 
     Em que fundamenta Wilson esta hipótese?
 
     De acordo com a ciência, a nossa história como seres humanos começou há 2 milhões de anos com a primeira espécie que caminhava ereta nas planícies africanas, o "Homo habilis". Há 130.000 anos contamos com a presença dos primeiros membros da espécie "Homo sapiens sapiens", que somente há 10.000 anos começou a se agrupar em aldeias e a cultivar a terra de forma mais ou menos organizada.
 
     Em outras palavras, durante mais de 99% de nossa história, habitamos os bosques, as planícies, as costas de nosso planeta, em um contato diário e íntimo com a natureza e não em cidades. Desta forma, nossa constituição genética, nosso cérebro e instintos se desenvolveram em função do meio ambiente natural, rodeado de bosques, animais e acidentes geográficos de todos os tipos. Um ambiente artificial plano, rodeado de máquinas, edificíos e aparelhos, certamente não corresponde à natureza humana.

     Segundo Wilson, o ser humano precisa estar em contato com a natureza para poder vivenciar em plenitude os sentidos e  instintos naturais de sua espécie, que ainda existem, pois é impossível apagar milhões de anos de história genética neste curto período, no qual o homem passou a viver em centros urbanos. Esta afinidade com o mundo natural explica, por exemplo, a sensação de prazer que sentimos ao apreciar um por do sol, um céu estrelado e paisagens naturais.
 
      E como se manifiesta na sociedade este impulso humano, que Wilson chama de "biofilia"¹? Estes são alguns fatores relevantes:
  • Nos Estados Unidos, onde existem estatísticas sobre este particular, os zoológicos têm mais visitantes anualmente que todos os eventos esportivos profissionais juntos, 10% da população pertence a alguma organização conservacionista e seus parques nacionais recebem 300 milhões de visitantes ao ano.
  • Os canais de televisão Discovery Channel e Animal Planet, que mostram programas sobre a natureza, estão entre os mais populares a nível internacional.
  • Assim que uma família pode dar-se o luxo de adquirir uma segunda vivenda, o faz no campo ou na praia.
  • O desejo de dotar as cidades de parques e jardins públicos é universal e começou há muito tempo com os jardins suspensos da Babilônia.
  • Os resultados de mais de 100 estudos psicológicos sobre o efeito produzido pela visita a parques nacionais mostram, que a redução do "stress" é o benefício mais importante.
  • M.J. West (1985) comprovou com seus estudos em hospitais, que pacientes em quartos com vista à natureza se recuperam mais rapidamente e com menos complicações, que pacientes com vista a urbanizações.
  
      Estando assim comprovado, que mesmo o contato visual com a natureza traz consideráveis benefícios ao ser humano, podemos concluir, que planos urbanísticos devem garantir à população o máximo de contato físico e visual com espaços e paisagens naturais. Especialmente em regiões turísticas, a preservação da paisagem natural e histórica é de vital importância, pois o cenário é geralmente o atrativo principal  da região.

      Na União Européia utiliza-se normas abrangentes para a proteção da paisagem, que valorizam cinturões verdes e definem estilos, dimensões e cores para construções em cada localidade. Assim são desenvolvidas soluções arquitetônicas e paisagísticas que permitem a integração visual de urbanizações no contexto natural e histórico de cada região. A importância paisagística de uma localidade pode ser definida de acordo com o gráu de incidência visual que recai sobre ela. Áreas muito visíveis, como topos de morros e pontas de praias, obtém maiores restrições urbanísticas, que áreas menos visíveis.

      O estudo da biofilia demonstra a importância de se projetar a urbanização de uma região, preservando e implementando cinturões verdes, corredores ecológicos, paisagens e espaços de lazer naturais, bem como o acesso a estes, pois estes fatores, em conjunto com serviços comunitários adequados, garantem uma ocupação territorial sustentável e uma qualidade de vida superior na região, que são fundamentais para um próspero desenvolvimento do setor turístico local.

     Considerando os positivos cenários de desenvolvimento que se obtém à partir deste princípio, especialmente nas áreas de urbanismo, arquiteturta e turismo, divulgo em síntese este estudo, para compartir com interessados esta visão de sustentabilidade, a qual pode orientar favoravelmente o desenvolvimento sócio-econômico na região.


Técnico em gestão ambiental para o turismo e hotelaria
formado pelo programa EUROFORM da U.E. em Bonn - Alemanha


Fonte: In Search of Nature Biophilia and the Environmental Ethic.
Autor: Edward O.Wilson. Harvard University

(*) Publicado originalmente em: http://geocities.ws/adcubatuba/A/artigos1.htm

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