quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O Otimismo da Incerteza


Publicado em 8 de novembro de 2008 pelo CommonDreams.org

Por Howard Zinn de um extrato do livro de Paul Rogat “O impossível demora um pouquinho mais”


Neste horroroso mundo no qual esforços para cuidar de pessoas frequentemente se empalidecem em comparação com o que é feito por aqueles que tem poder, como posso conseguir permanecer envolvido e aparentemente feliz? Eu estou totalmente confiante não que o mundo ficará melhor, mas nós não devemos desistir do jogo antes que todas as cartas tenham sido jogadas. A metáfora é deliberada; a vida é um jogo. Não jogar é excluir qualquer oportunidade de ganhar. Jogar, agir, é criar pelo menos uma possibilidade de mudar o mundo. Há uma tendência de se pensar que o que nós vemos no presente momento continuará. Nós esquecemos o quão freqüente nos temos sido surpreendidos grandemente por uma repentina desintegração de instituições, por extraordinária mudança no pensamento das pessoas, por inesperadas erupções de rebeliões contra a tirania, por um rápido colapso de sistemas de poder que pareciam invencíveis. O que é uma transição súbita da história nos cem anos passados, é também sua completa imprevisibilidade. Isto nos confunde, porque estamos falando exatamente do período quando os seres humanos se tornaram tão engenhosos tecnologicamente que poderiam planejar e predizer o tempo exato em que alguém pousaria na Lua, ou andar pela rua falando com alguém do outro lado da Terra.

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Nenhum cálculo frio do equilíbrio de poder é capaz de intimidar pessoas que estão persuadidas que sua causa é justa. Eu tentei muito me igualar com meus amigos no seu pessimismo sobre o mundo (são apenas meus amigos?), mas eu continuo encontrando pessoas que, apesar de todas as evidências de coisas terríveis acontecendo em toda parte, me dão esperança. Principalmente pessoas jovens, nas quais o futuro depende. Onde quer que eu vá, eu encontro tais pessoas. E alem de um punhado de ativistas, parece existir centenas, milhares mais que estão abertos a idéias não ortodoxas. Mas eles tendem a não conhecer a experiência um dos outros, e então, enquanto eles persistem, eles o fazem com a desesperada paciência de Sisyphus empurrado sem fim aquele bloco enorme de pedra montanha acima. Eu tentei dizer a cada grupo que não estavam sozinhos, e que as mesmas pessoas que estão desanimadas pela ausência de um movimento nacional são elas próprias a prova do potencial para tal movimento. É esta mudança de consciência que me encoraja. Admitindo que o ódio racial e a discriminação sexual ainda existem em nós, guerra e violência ainda envenenam nossa cultura, nós temos um enorme subclasse de pobres, pessoas desesperadas, e há um núcleo social resistente de pessoas que estão contentes com a forma como as coisas são, com medo da mudança. Mas se nós apenas virmos isto, nós perderemos perspectiva histórica, e então será como se tivéssemos nascidos ontem e nós conheceremos somente as estórias deprimentes nos jornais da manhã, nas reportagens da noite da televisão. Pondere a notável transformação, em apenas poucas décadas, na consciência das pessoas sobre racismo, na corajosa presença de mulheres exigindo seu legítimo lugar, no crescente estado de ser consciência do público que gays não são curiosidades, mas sensatos seres humanos, na descrença de longo prazo sobre as intervenções militares a despeito das breves ondas de loucuras militares. É esta mudança de longo prazo que eu penso que nós devemos ver se não queremos perder a esperança. Pessimismo se torna uma profecia auto-realizável; ela se auto reproduz incapacitando nossa vontade de agir.

Mudança revolucionária não acontece como um momento cataclísmico (tome cuidado com esses momentos), mas como uma sucessão de surpresas, movendo em zigzag em direção a uma sociedade mais decente. Nós não temos que nos empenhar em grandes, heróicas ações para participar do processo de mudança. Pequenos atos, quando multiplicados por milhões de pessoas, podem transformar o mundo. Mesmo quando não “ganhamos”, há muito divertimento e realização no fato de termos nos envolvido com outras boas pessoas, em algo que vale a pena. Nós precisamos de esperança. Um otimista não é necessariamente um assobiador displicente, leviano e tolo no nosso momento sombrio. Ser esperançoso em tempos ruins não é apenas tolamente romântico. Está baseado no fato que a história humana não é apenas crueldade, mas também compaixão, sacrifício, coragem, bondade. O que nós escolhermos enfatizar nesta complexa história determinará nossas vidas. Se apenas virmos o pior, isto destrói nossa capacidade de fazer qualquer coisa. Se nós lembrarmos aqueles tempos e lugares – e há tantos – nos quais pessoas se comportaram magnificamente, isto nos dá energia para agir, e, pelo menos, a possibilidade de mandar esta confusa parte do mundo para uma direção diferente. E se nós agirmos, de qualquer pequena forma, nós não teremos que esperar por um grande futuro utópico. O futuro é uma infinita sucessão de presentes e viver agora como acreditamos que seres humanos deveriam viver em desafio a tudo que há de mal em nosso redor, é por si próprio uma vitória maravilhosa.

Adaptado do “O Impossível tomará um pouquinho mais de tempo”, editado por Paul Rogat Loeb. Parte deste ensaio apareceu em “Você Não Pode ser Neutro em um Trem em Movimento e Howard Zinn na História” 
Traduzido por Elias Penteado Leopoldo Guerra

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